domingo, novembro 12, 2006

“Lula-lá, brilha uma estrela”


Ainda lembro da música que embalava a última – ou será a penúltima? – campanha de nosso ex-futuro-Presidente Luiz Inácio.

Aliás, sua reeleição fez-me lembrar uma antiga anedota que, provavelmente, expressa como nenhum outro pensamento a realidade mais nua e crua do país: “a melhor saída para o Brasil é o aeroporto”. Triste.

Mas a tristeza não reside na reeleição de Luiz Inácio. Seria diferente com Geraldo? Penso que não muito.

Hoje um amigo – petista convicto – disse-me: “Lula tinha que ganhar. Ele governa para os pobres. Eu não preciso do Governo”. Certo, concordo, eu também não preciso. Mas o governo precisa de mim (e dele - meu amigo).

Afinal, felizmente, não necessito de transporte ou hospitais públicos, nem de programa habitacional, sequer de emprego. Somente de segurança. Egoísta? Não. Egoísta é o Governo, que precisa de mim, e por isso quer ser "meu dono".

É, meu dono... Não acredita? Pois digo mais, provavelmente, se ainda não é, logo será o seu também. Duvida?

Comprei a duras penas minha morada. Mas para continuar aqui, tenho que pagar IPTU. Para onde vai o dinheiro? Pro governo. E se eu não pagar? Com o tempo, o Governo “toma” meu teto.

Ahhhh... mas e a iluminação pública? Eu pago! E o pagamento está embutido na minha conta de luz (e no IPTU).

Mas, enfim, posso ficar feliz com meu automóvel quitado, não é? Não. Pago IPVA e licenciamento para ter o “direito” de rodar nas ruas mais esburacadas do planeta (às vezes me pergunto se já não conquistamos as crateras da lua).

Será que preciso comentar do Imposto de Renda?

Portanto, eu não preciso do Governo, mas ele precisa de mim! E de Você!

Fica claro, assim, que o problema não é Luiz Inácio, nem Geraldo ou Fernando ou seja lá quem for.

Para que não se diga, também, que sou fã de Luiz Inácio – e não sou – cumpre dizer o que mais me incomoda nele: a divisão do Brasil. A divisão de “governar para os pobres contra a opressão dos ricos”.

Não quero sentir vergonha de ganhar dinheiro, mas é isso que Luiz Inácio me causa com seu discurso. Não sou rico, antes fosse. Mas quero – muito – ser. E, sinceramente, quero mais ainda ter orgulho, não vergonha, disso. Orgulho de vencer pelo meu esforço e trabalho. Não é justo?

Mas como conseguir isso no Brasil? Hum, boa pergunta.

Talvez a melhor definição do país tenha sido dada em um artigo do emblemático João Ubaldo Ribeiro, intitulado "Precisa-se de Matéria-Prima para construir um País", que tive a oportunidade de reler, após um e-mail recebido de meu pai, e do qual tomo a liberdade de reproduzir alguns trechos:

“(...) Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nas calçadas onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE ESTÃO. (...)”

“(...) Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo porque conseguiu "puxar" a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a declaração de imposto de renda (...). Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito. Onde os diretores das empresas não valorizam o capital humano. (...) Onde pessoas fazem "gatos" para roubar luz e água e nos queixamos de como esses serviços estão caros.

Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior nosso atual Presidente, que recentemente falou que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem econômica. (...)”

“(...) Pertenço a um país (...) onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o pedestre. Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos esbaldamos em criticar nossos governantes.”

Assim, se, como diz a propaganda, o melhor do Brasil é o brasileiro, tenho medo de perguntar o que é o pior.

E, parabéns a Luiz Inácio e a nós brasileiros! E que Deus nos auxilie.

J.R. Abraham

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